A partir do século XX, com o desenvolvimento da indústria farmacêutica tornou-se essencial e cotidiano a utilização de drogas sintetizadas em laboratório. Tal prática é realizada com propósito de alterar o funcionamento natural do corpo para, então, atingir determinadas condições fisiológicas. Dessa forma, o ascendente uso de medicamentos corresponde ao anseio pelo máximo controle pelo corpo humano, adaptando-o às demandas da sociedade e seus métodos.
Em primeiro plano, ressalta-se a ocorrência desse fenômeno em razão da adequação desses indivíduos às atividades exercidas em sociedade. Durante o período da Primeira Revolução Industrial, no século XVIII, popularizou-se o consumo vicioso de café devido a sua propriedade psicoativa que inibe neuroreceptores ligados a sensação de cansaço. Com isso, os trabalhadores conseguem se mantiver produtivos por muito mais tempo, o que os aproximará do ritmo das máquinas, apesar da diminuição da qualidade de sol.
De maneira análoga, na contemporaneidade tem se consolidado o hábito de procurar fármacos por mais brandos que sejam as motivações de saúde, sendo eles vistos como produtos quaisquer, sem malefícios em seu consumo recorrente. Uma das razões para isso ocorrer está relacionada ao modus operandi dos setores midiáticos, que, motivados por compensações financeiras, incentivam a compra de tais produtos para satisfazer as necessidades do público, muitas vezes infundadas. Assim, há uma elevação da ocorrência dessa situação em virtude da ação de lógica capitalista.
Portanto, o fenômeno da medicalização da vida se configura extremamente enraizado no sistema vigente, tornando-se problemático ao alastrar a dependência química por todo o corpo social. Logo, trata-se de um sintoma de uma população cada vez mais incapaz de lidar com situações complexas e com as condições naturais de cada um.
Por Erik Jun
